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O que pais precisam saber para serem cumplices de suas filhas em todas as fases

A ginecologista, obstetra e mastologista Dra Fernanda Torras dá informações valiosas para os pais não serem pegos de surpresa



 

 

Para muitas famílias, tocar em certos assuntos com os filhos é difícil e constrangedor, tanto para os pais, quanto para os filhos – que morrem de vergonha. Agora imagine um pai solteiro ter que falar com a filha sobre higiene íntima, menstruação e sexo.

 

Os homens modernos estão cada vez mais presentes em todas as fases dos filhos, e, normalmente, a relação deles com as filhas é de maior cuidado e proteção. Por isso, para que essa cumplicidade esteja presente desde o primeiro dia de vida da “princesinha do papai”, é importante que eles saibam como cuidar e orientar suas meninas, especialmente para aqueles que fazem papel de pai e mãe.

 

Para ajudar a orienta-los, a Dra Fernanda Torras, ginecologista, obstetra, mastologista e mãe, separou algumas dicas e informações importantes para que os papais não sejam pegos de surpresa.

 

Bebês:

É extremamente importante saber como fazer a higiene correta na hora do banho e nas trocas de fraldas: “No banho, a genitália da bebê deve ser lavada com as mãos limpas e sabonete neutro – glicerina é uma boa escolha – ou sabonetes suaves para bebê. Deve-se afastar com cuidado os grandes lábios para tirar as secreções, sem esfregar ou fazer pressão, e somente externamente. Após o banho, enxugar com toalhas secas e limpas, sem friccionar”, orienta.

 

Caso os pais notem um pequeno acúmulo de secreção esbranquiçada e leve sangramento rosado, Dra. Fernanda tranquiliza: “Isso é comum e ocorre devido a estimulo hormonal”.

 

As trocas de fraldas devem ser feitas após cada xixi ou cocô, pois, muitas vezes há acidez e irritação da vulva por ph de sucos de frutas ou mesmo assadura das fraldas: “Neste caso, há possibilidade de usar pomadas na região mais avermelhada, somente externamente”, recomenda.

 

A limpeza pode ser feita com lencinhos sem álcool, algodão umedecido ou lavagem com água morna, sempre com cuidado para higienizar a vulva e a região anal separadamente, trocando o lencinho ou algodão. Ao lavar é preciso que o fluxo de água seja direcionado da vulva para o ânus, e nunca o contrário.

 

Desfralde:

Quando a criança já desfraldou, a missão é ensinar sobre a auto-limpeza após usar o banheiro.  É fundamental que o pai converse desde cedo com a menina e a oriente a limpar a região sempre da vulva para o ânus. Até que ela saiba fazer a higiene corretamente, o pai precisa estar presente para supervisionar e auxiliar quando necessário, pois o descuido frequente ou recorrente pode provocar vulvovaginites, corrimentos e até infecções urinárias: “Hoje existem lencinhos sem álcool próprios para higiene após uso de banheiros. Essa é uma ótima opção para as meninas e até um incentivo por se tratar de algo diferente para as crianças”, conta.

 

Banho:

As meninas que tomam banho sozinhas também tem que ser ensinadas a se lavar com as mãos, afastando os grandes lábios para que toda a vulva seja limpa com sabonetes de ph neutro, glicerina ou infantis suaves. Nessa idade, ainda não é liberado o uso de sabonetes íntimos.

Trocar a calcinha também é importante: “Recomenda-se a troca 2 vezes ao dia para evitar acúmulo de secreções e proliferação de fungos e bactérias”, explica.

 

Pré-adolescência e adolescência:

Finalmente chegam as fases mais delicadas (e temidas pelos pais), onde os hormônios começam a se manifestar e uma série de mudanças no corpo e comportamento das meninas passam a ocorrer.

 

Menstruação

A idade da primeira menstruação varia, mas o comum é ocorrer entre 11 e 13 anos. Após o primeiro ciclo menstrual, o pai deve saber orientar quanto a frequência de trocas de absorventes – a cada 4 horas como ideal – e sobre a higienização da vulva antes da troca, para que retire ao máximo o acumulo de sangue e evite proliferação de fungos e bactérias: “Pais habilidosos podem ajudar suas filhas instalando uma ducha higiênica no banheiro para que esse cuidado seja mais completo. Dar lencinhos humedecidos para que as meninas levem em suas bolsas e mochilas também é importante”, aconselha.

 

Falar sobre todos esses assuntos vai exercitar muito o jogo de cintura dos pais, mas para que isso não seja um constrangimento para ninguém, a dica é conversar sobre tudo e não criar barreiras ou tabus em volta de nenhum tema. Os pais tem que entender que suas filhas estão seguindo o caminho natural da evolução e tratar tudo com naturalidade. Como consequência, as filhas terão liberdade e confiança para procura-los e tirar dúvidas.

 

Sexo

Todo esse “treinamento” será colocado à prova quando chegar a hora de falar sobre sexo. Nessa hora toda e qualquer vergonha deve ser deixada de lado, pois a informação é a ferramenta mais importante para prevenir doenças e situações indesejadas, como uma gravidez precoce: “Uma dificuldade é saber o momento correto de abordar este assunto. Para fazer essa avaliação tem que estar ligado nas atividades da filha. Saber quais programas e canais de YouTube ela assiste, sites que ela gosta, pessoas que segue em suas redes sociais e conhecer o grupo de amigos. Caso o pai ache que alguma coisa esta errada, deve tomar a iniciativa da conversa, mas sempre que possível, é bom deixar com que ela puxe o bate papo, pois dessa forma vai estar aberta para receber as informações. Ouvir e estar disponível é a melhor dica”, afirma.

 

Outra coisa que aflora na adolescência também é a identidade de gênero e sexualidade: “Caso isso aconteça, o diálogo será mais fácil e aberto se o pai iniciar a conversa demonstrando aceitação na condição”.

 

Estudos mostram que, ao ser pai de uma menina, o homem passa a ter mais empatia sobre igualdade de gênero e combatendo o sexismo no diálogo e atitudes. Isso porque consegue transpor a filha sobre a igualdade entre os sexos na sociedade e a capacidade da mulher na sociedade, construindo auto-estima e fortalecendo psicologicamente a menina: “As filhas mulheres são amigas, companheiras, precisam falar e ser ouvidas. São emotivas (cuidado com o que fala), precisam sentir que são acolhidas e protegidas, e o papel do pai é de grande importância no desenvolvimento da mulher”, finaliza Dra. Fernanda.

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