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Medicamento vencido traz risco à saúde e ao meio ambiente

Especialista alerta sobre os perigos de guardar fármacos além do prazo de validade; veja como e onde descartá-los de maneira correta

Vale a pena guardar em casa aqueles analgésicos que sobraram do último tratamento contra a gripe ou os antibióticos que “podem ser úteis algum dia”? O hábito de formar um estoque de medicamentos vencidos ou em desuso ainda é comum em muitos lares brasileiros, mas essa prática pode trazer sérios riscos à saúde e ao meio ambiente.

 

O alerta é da pós-doutora em Ciências Biológicas e coordenadora do curso de Farmácia do Centro Universitário Integrado de Campo Mourão (PR), Ana Carla Broetto Biazon. “Com o tempo, fármacos perdem a eficácia e podem comprometer o tratamento das doenças. Além disso, mantê-los em casa após o prazo de validade descrito nas embalagens aumenta a chance de acidentes como intoxicações por ingestão, especialmente por crianças, pets ou pessoas vulneráveis”, explica.

 

Por outro lado, o descarte incorreto – seja no lixo comum, na pia ou no vaso sanitário – contamina a água, o solo, a fauna, a flora e a própria saúde humana com substâncias como hormônios e antibióticos que impactam diferentes ecossistemas e promovem a resistência microbiana.

 

Onde fazer o descarte?

RDC 318/2019 é uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que estabelece critérios para a realização de estudos de estabilidade de insumos farmacêuticos ativos e medicamentos novos e os já existentes no mercado. O objetivo é garantir a qualidade, segurança e eficácia dos produtos durante um período.

 

“A data de validade indica o prazo em que o fabricante garante que o princípio ativo manterá sua potência, sob condições ideais de armazenamento como temperatura, umidade e luminosidade. Após esse limite, o medicamento pode não só perder a eficácia, mas também se decompor e formar subprodutos tóxicos, aumentando os riscos de reações adversas”, explica Ana Carla.

 

Segundo o Decreto nº 10.388 de 2020 do Governo Federal, o destino para os medicamentos vencidos – mesmo aqueles que estejam completos ou parcialmente consumidos – são as próprias drogarias e farmácias.

 

A coordenadora do curso de Farmácia do Integrado destaca que as exceções são para materiais perfurocortantes – como agulhas, ampolas e canetas de insulina – que devem ser acondicionados em recipientes rígidos, resistentes à perfuração, vazamentos, com tampa bem vedada e devem ser entregues apenas em unidades de saúde autorizadas, como UBSs, que estão preparadas para receber e descartar esses resíduos com segurança.

Como fazer o descarte de forma segura?

Ana Carla ressalta que a embalagem primária – aquela que está em contato direto com o medicamento – deve ser mantida intacta. “Os comprimidos não devem ser retirados do blister, nem os líquidos removidos de frascos ou ampolas. Isso ajuda a identificar o produto e evita a contaminação. Blisters, potes e frascos usados são considerados resíduos químicos e devem ir junto com os medicamentos para o descarte”, alerta.

 

No entanto, as embalagens secundárias – como caixas de papelão, bulas e rótulos que não possuem contato direto com o medicamento – podem ser recicladas normalmente, junto com outros itens domésticos. “Não há impedimento desses itens também serem encaminhados aos postos de coleta junto com os comprimidos ou líquidos. Mas, se as pessoas preferirem, eles podem ser descartados em casa mesmo”, completa Ana Carla.

 

O que é feito com os medicamentos descartados?

Os objetos perfurocortantes – como seringas e agulhas – são levados a uma usina de tratamento, onde são descontaminados. Depois, são encaminhados para aterros nos quais são descartados os materiais sólidos. Já com relação aos medicamentos vencidos e produtos químicos, a maior parte é incinerada (queimada) em usinas preparadas ambientalmente para essa ação.

 

Consumo responsável

A “farmacinha doméstica” não deve ser um depósito de sobras, mas sim um kit para emergências, com verificação periódica. “Medicamento não é alimento, nem cosmético. É um insumo de saúde que se mal conservado ou descartado de maneira incorreta, vira ameaça”, enfatiza Ana Carla.

 

Adotar hábitos de compra consciente, armazenamento adequado e descarte ambientalmente seguro reduz acidentes, protege a eficácia dos tratamentos e contribui para um planeta mais saudável. Em caso de dúvida, a recomendação é procurar a orientação de um farmacêutico para explicar a posologia correta, checar interações e indicar o ponto de coleta mais próximo.

 

Para evitar o acúmulo de medicamentos em casa e incentivar o uso racional, Ana Carla Broetto Biazon separou 5 dicas simples e fáceis de colocar em prática. Confira!

 

1.       Compra consciente: adquira apenas o necessário para o tratamento, seguindo a prescrição médica.

2.       Organização: use caixas com divisórias por dia/horário e faça uma revisão mensal das validades.

3.       Armazenamento correto: local fresco, seco, longe de calor e luz. Evite cozinha e banheiro, que sofrem variações de temperatura e umidade.

4.       Doação solidária: medicamentos dentro do prazo, guardados sob condições adequadas, podem ser destinados a farmácias solidárias, como a Farmácia Escola do Centro Universitário Integrado.

5.       Distância de crianças e pets: mantenha os frascos fora do alcance par

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