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Fernando de Noronha lança exposição permanente de coleção de lixo marinho

Até 2050 os oceanos terão mais plásticos do que peixes. O alarmante dado foi divulgado durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, em 2016. Os produtos descartáveis, sobretudo os plásticos, e consequentemente o descarte errado desse e de outros resíduos, podem colapsar o planeta em um futuro próximo, como apontou o documento no fórum de Davos.

Pensando nessas questões, a administração de Noronha, através da Superintendência de Meio Ambiente, está lançando a exposição Coleção Didática de Lixo Marinho nesta sexta-feira (18), no Memorial Noronhense, que vai marcar o Dia Internacional da Limpeza das Praias (Cleanup Day), ação programada para o sábado (19) em mais de 180 países, para que as pessoas repensem os próprios hábitos, conscientizando-as por meio da educação ambiental.

“Fernando de Noronha, além da incrível beleza e abundante vida marinha, uma combinação perfeita para a reflexão, se apresenta também como um grande laboratório de sensibilização ambiental sobre o lixo marinho. O fluxo de amantes da natureza que visitam a ilha é um fator favorável à disseminação desse despertar”, comenta Guilherme Rocha, administrador da ilha.

A utilização de plásticos descartáveis está proibida na ilha desde 2019, quando entrou em vigor o programa Noronha Plástico Zero. A exposição é mais uma forma de mostrar o que o lixo pode causar à natureza, causando desequilíbrio aos ecossistemas, destruindo vidas marinhas e afetando o meio ambiente de maneira irreversível.  A coleção que será exposta em Noronha, no Memorial Noronhense, é integrada à Rede de Coleções didáticas e Científicas/de Referência sobre lixo Marinho (RECOLIXO), que inclui diversas instituições de ensino e pesquisa. Ela será permanente, com inclusão de novos itens que forem sendo encontrados ao longo do tempo.

“O lixo marinho fornece indícios sobre nosso estilo de vida no planeta. Por meio da sua coleta e análise podemos ter uma noção dos impactos relacionados ao nosso consumo e do descarte inadequado de resíduos. Se por um lado o lixo marinho causa desconforto pela poluição visual, por outro, pode ser usado como estímulo para repensarmos em qual mundo queremos viver. Nosso hábito está refletido em cada item encontrado na praia ou ingerido incidentalmente pelos animais marinhos”, diz Daniele Mallman, superintendente de Meio Ambiente do arquipélago.

Sandra Cadengue, bióloga da administração, foi a responsável pela coleta dos itens que fazem parte da coleção. Segundo ela, o que mais a impressionou durante o recolhimento foi a quantidade de tampinhas de garrafas, vidros, sandálias, sapatos, seringas de medicamentos, pilhas, bitucas de cigarro, embalagens de biscoito, escovas de dente, pentes, produtos de higiene, garrafa de óleo de motor e apetrechos de pesca com animais presos. Também foi identificado lixo de outros países, que chegou até Noronha pelas correntes marinhas.

“Este trabalho de manutenção das áreas tem que ser contínuo, para a retirada dos resíduos, com o intuito de conservar o ambiente terrestre e também o marinho. A partir do momento que nós retiramos esses resíduos, evitamos a contaminação das praias e oceanos”, alerta a bióloga.  

O trabalho já havia sido feito anteriormente, com ações de limpeza da administração. Mas com o objetivo da coleção, para dar embasamento ao que chega na ilha pelo mar e também do que é produzido localmente, a coleta foi realizada entre os meses de maio e agosto, em praias da Área de Proteção Ambiental (APA) e do Parque Nacional Marinho (PARNAMAR). Em torno de noventa quilos de itens foram recolhidos.

Todo o lixo coletado foi separado por tipo e por praia. O material sofreu outra triagem, associando informações de onde eles foram encontrados, país de origem (se os objetos tiverem rótulo) e uso. A partir disso, a coleção foi subdividida entre a parte didática, que será exposta no museu, com materiais encontrados no dia a dia e que vão parar no mar por descuido, e a parte de reserva técnica, com itens que tenham informações mais detalhadas, principalmente de outros países, que podem ser futuramente usados por pesquisadores que estudam o lixo marinho.

A bióloga da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Érika Cavalcante, que está atuando na curadoria da exposição, catalogando a coleção, diz que já foram encontrados nas praias de Fernando de Noronha objetos de países do continente africano e asiático. Ela diz que a função da coleção é justamente registrar itens de um momento histórico, para o acesso de pesquisadores e interessados sobre o assunto. O registro de determinado grupo de itens para as pessoas se utilizarem daquela informação agora e no futuro.

Ela aponta uma característica, por exemplo, que as praias do Mar de Fora trazem com mais frequência itens de outros países, por conta das correntes marítimas do Oceano Atlântico. Já nas praias do Mar de Dentro, os itens encontrados provavelmente têm origem na própria ilha.

“Tentamos chamar atenção justamente aos cuidados que a gente tem que ter com o oceano, não só do lixo que produzimos e que podem estar em outras áreas do mundo, mas dos lixos que são jogados em outras áreas do mundo e também nos impactam. A coleção mostra que ações locais impactam globalmente”.  

A Coleção Didática de Lixo Marinho de Fernando de Noronha permitirá perceber que o problema do lixo marinho é global e urgente. E tem por objetivo principal a reflexão de todos sobre seus hábitos de consumo e descarte do lixo.

Serviço

Exposição Coleção de Lixo Marinho de Fernando de Noronha

Local: Memorial Noronhense (Vila dos Remédios)

Data: A partir de 18 de setembro de 2020

Horário: 9h às 12h,

Dias: Segundas, quartas e sextas

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