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Sexo e boca: como os dentistas podem diagnosticar precocemente a sífilis

 

– Avançando rapidamente no Brasil, a sífilis pode ser diagnosticada não apenas por especialistas em Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). O olhar atento e criterioso de um dentista pode ser determinante para o diagnóstico precoce da doença que acomete 6 milhões de pessoas por ano no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

– O Dia do Sexo – comemorado em 6/9, uma alusão à posição sexual – é uma excelente oportunidade para falar sobre a importância do uso correto de preservativos, inclusive para o sexo oral, uma forma de contágio de várias DSTs.

Ao voltar de uma viagem de férias à Espanha, um paciente do dentista Fábio Bibancos procurou um otorrinolaringologista por conta de uma queimação na garganta. Nada constatado pelo médico, reportou o incômodo ao dentista que, após exame clínico criterioso, diagnosticou sífilis. Longe de ser um caso isolado, a história ilustra o avanço de uma doença que não escolhe idade, sexo ou classe social. Nos últimos cinco anos, os casos reportados comprovam que a sífilis se tornou uma epidemia no Brasil, sobretudo nos grandes centros urbanos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cada ano, cerca 6 milhões de pessoas sejam diagnosticadas no mundo com sífilis congênita, gestacional e adquirida.

Diante da gravidade do avanço da doença, a atenção de vários profissionais da saúde se torna determinante para o combate. Nesse contexto, o papel do dentista é muito relevante. “Sexo e boca. Apesar dessa relação ser muito estreita, pouco se fala sobre o vínculo entre sexo e saúde bucal. A boca, de certa forma, também pode ser considerada um órgão sexual. É revestida de mucosa, assim como os genitais e o ânus. Quando há contato no ato sexual, sempre surge a possibilidade de transmissão de vírus e micro-organismos causadores de doenças, já que o encontro entre as mucosas dos parceiros envolve secreções como esperma e líquido vaginal. E a sífilis pode estar presente, embora muitas vezes não existam feridas na boca”, detalha o dentista dr. Fábio Bibancos.

Na opinião de Bibancos, o paciente deve enxergar o dentista como um profissional da área médica, ou seja, alguém capacitado a fazer o primeiro diagnóstico por meio de um exame clínico, sobretudo em manifestações de doenças bucais e alterações na boca. Na prática, a conversa com o dentista tem que ir além dos problemas dentais corriqueiros.  

Com 30 anos de experiência, Fábio Bibancos defende que a atuação do dentista deve ultrapassar a fronteira do cuidado com os dentes; como profissional da saúde, o cuidado deve ser integral. Segundo Bibancos, mestre em Saúde Coletiva, nos órgãos genitais, a doença – provocada pela bactéria Treponema pallidum – deflagra uma ferida (cancro), que geralmente não provoca dor. Mas, esse cancro pode acometer a boca, muitas vezes sendo confundido com herpes, já que atinge os lábios, a língua ou orofaringe (perto de onde engolimos). “O grande perigo é alcançar o céu da boca, pois as feridas podem causar perfurações, invadindo as cavidades nasais. A língua, por sua vez, aumenta de tamanho e muda o formato. Quando chega a esse ponto, pasme, até um simples beijo pode disseminar a doença”, detalha dr. Bibancos, acrescentando que, tratada precocemente, a sífilis pode ser curada sem causar maiores danos à saúde.

Prevenção

Fábio Bibancos aponta, como todos os especialistas sérios, a prevenção como a principal arma para combater o avanço da sífilis e de outras doenças sexualmente transmissíveis. “Usar camisinhas com sabor é uma forma divertida e segura de praticar o sexo oral. E, muita atenção: depois de usar a camisinha para o sexo oral, não podemos aproveitá-la para a penetração. A saliva e os dentes podem ter danificado a borracha e isso nem sempre é visível. O ideal é usar outra para continuar a brincadeira”, recomenda.

Além da sífilis, outras doenças podem ser transmitidas pelo sexo oral. Uma delas é a gonorreia – uma infecção bacteriana causada pela Neisseria gonorrheae. De acordo com dados da OMS, anualmente 78 milhões de pessoas são diagnosticadas com a doença no mundo. A doença tem se tornado mais resistente; o Brasil é um dos países que têm um nível de resistência especialmente alto, estando no grupo em que a ciprofloxacina – medicamento usado no tratamento – não funcionou de 6% a 30% dos casos.  

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