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Maternidade tardia: será que é uma questão de escolha?

Segundo o último censo do IBGE, o número de mães com idades entre 30 e 34 anos aumentou de 14,4% em 2001 para 18,3% em 2010. Se há 30 anos era incomum ver uma mulher tendo filhos depois dos 35, hoje a maternidade nessa faixa etária é uma realidade. Só em São Paulo, de acordo com dados da Fundação Seade, 35,4% das mães têm entre 30 e 39 anos.

Mas, quais serão os motivos que estão levando as mulheres a adiarem a maternidade? Segundo a psicóloga Marina Simas de Lima, terapeuta de casal, família e cofundadora do Instituto do Casal, as razões são diversas e estão ligadas às mudanças sociais, econômicas e às conquistas das mulheres nas últimas décadas. Marina realizou sua tese de Mestrado no assunto, “Mulheres e Maternidade Tardia: Por que agora?

“Uma das questões envolvidas em adiar a maternidade é que atualmente a maioria das mulheres costuma dedicar mais energia para a vida acadêmica e profissional, com menos foco nos relacionamentos. Na ânsia de se firmar na profissão e ter alguma estabilidade financeira, acabam deixando de lado os planos de se casar e ter filhos para mais tarde”, conta Marina.

Um mundo de possibilidades
Hoje as mulheres experimentam e valorizam diferentes papéis. Como há diversas possibilidades, o que não acontecia há 40, 50 anos, surgem conflitos pelos quais nossas mães e avós não passaram, por exemplo. “Muitas mulheres chegam aos 40 anos e se deparam com o desejo de ter um filho e percebem que o tempo passou, que são solteiras ou ainda que a questão da idade será um fator que pode impedir a gravidez”, comenta Marina.

Maternidade e vida profissional combinam?
“O principal conflito da mulher hoje é ser levada a pensar que precisa fazer escolhas, pois existe a crença de que maternidade e a vida profissional não podem ser conciliadas. Ou ainda que a partir do momento que você é mãe, pode perder seu status profissional, emprego ou ter que deixar a vida profissional de lado para cuidar da criança”, conta Marina.

Para Marina, pode até não ser a tarefa mais fácil do mundo, mas é possível ter filhos e trabalhar sim. “Toda mudança implica em adaptações. A chegada de um filho irá demandar uma adaptação na vida da mulher ou do casal. Certamente, a mulher precisará de uma rede de apoio, como uma babá, um berçário e ajuda de familiares para poder se dedicar também à profissão”.

A psicóloga também explica que talvez também seja necessário mudar de trabalho, reduzir a carga horária nos anos iniciais da criança e dividir as tarefas com o parceiro para vivenciar a maternidade. Apesar dos desafios, Marina comenta que estudos revelam que mulheres que trabalham e têm filhos sofrem menos de depressão do que mulheres sem filhos que estão fora do mercado de trabalho, por exemplo.

Relógio biológico
Uma outra questão importante da maternidade tardia é o relógio biológico da mulher, pois diferentemente dos homens, que podem ter filhos até o final da vida, a idade reprodutiva da mulher é restrita. A partir dos 35 anos, a taxa de fertilidade é reduzida drasticamente e isso impacta na chance de engravidar naturalmente.

“A idade é o principal fator de risco para a infertilidade, para problemas na gravidez, para abortos espontâneos, assim como para anomalias genéticas. Outro ponto é que apesar dos avanços da Reprodução Assistida, cada tentativa de fazer um Fertilização in Vitro (FIV) pode custar, em média, de 15 a 20 mil reais e a chance de dar certo aos 40 anos é de cerca de 20%”, diz a psicóloga.

E vale dizer que quanto maior a idade, menor a probabilidade de a gestação acontecer, mesmo com os recursos da reprodução assistida, como o congelamento de óvulos ou de embriões.

Encorajar é preciso
Para Marina, é preciso encorajar as mulheres a fazerem suas escolhas de acordo com suas próprias decisões e valores e não baseadas em modismos ou em crenças pregadas pela sociedade.

“A maternidade deve ser uma escolha consciente. Entretanto, a mulher precisa estar atenta aos próprios desejos e valores, se conhecer e entender que o tempo é algo que não volta, sendo a idade um fator de risco para a infertilidade ou para a dificuldade em engravidar e chegar ao final da gestação”, reflete a terapeuta.

Para as mulheres que estão passando por este conflito, é possível usar a psicoterapia para ajudar a refletir sobre a questão. A terapia pode contribuir para que a mulher reflita sobre a maternidade para tomar uma decisão mais consciente.

“A terapia de casal ou individual também colabora na construção de novos significados, a rever crenças, modelos e a questionar as prioridades e escolhas. Pode colaborar ainda na opção de congelamento de óvulos, de embrião ou na compra de esperma, se essa mulher quer ter um filho sozinha ou por uma questão de infertilidade do casal”, conclui Marina.

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