1

Dia Mundial do Diabetes

Neste domingo (14), é celebrado o Dia Mundial do Diabetes. A data promove a conscientização para o problema de saúde global que atinge 537 milhões de adultos (20-79 anos) no mundo, uma em cada dez pessoas. Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), estima-se que esse número aumente para 643 milhões em 2030 e 784 milhões em 2045.

O diabetes é responsável por 6,7 milhões de mortes em 2021, uma a cada cinco segundos, segundo a IDF. De acordo com dados da instituição, mais de quatro em cinco (cerca de 81%) dos adultos com diabetes vivem em países de baixa e de média renda. As informações fazem parte dos resultados preliminares do Atlas do Diabetes de 2021, levantamento realizado periodicamente pela federação.

De acordo com a organização, a prevalência global da doença atingiu 10,5%, com quase metade (44,7%) sem diagnóstico.

O diabetes é definido como a produção insuficiente ou má absorção pelo organismo da insulina, o hormônio que regula a quantidade de glicose no sangue. A desordem metabólica faz com que os pacientes apresentem um aumento da glicemia, que é a presença do açúcar no sangue.

Um dos valores de referência que indica o desenvolvimento da doença é o resultado do teste de hemoglobina glicada, capaz de medir os níveis de açúcares no sangue também chamado de índice glicêmico.

“A taxa normal de hemoglobina glicada é de até 5,7% da hemoglobina total, a molécula que carrega oxigênio no sangue. Valores entre 5,7% e 6,5% o indivíduo é considerado com pré-diabetes. Acima de 6,5% é considerado um quadro de diabetes”, explica Domingos Malerbi, presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Impactos da pandemia para o controle da doença

No Brasil, a pandemia de Covid-19 provocou impactos para o controle da glicemia por pacientes com diabetes, o que aumenta potencialmente o risco de complicações e mortalidade nesses pacientes diante da infecção pelo novo coronavírus.

Segundo uma pesquisa conduzida nos primeiros meses da pandemia, comportamentos como adiamento de consultas médicas, a redução da atividade física e falta procura pelos medicamentos e insumos levaram à redução no controle glicêmico.

O levantamento, que contou com a participação de 1.701 pessoas, apontou que, entre 91,5% dos pacientes monitoraram a glicose no sangue em casa durante a pandemia. Desses, a maioria (59,4%) apresentou um aumento, diminuição ou maior variabilidade nos níveis.

Os dados do estudo mostraram que 38,4% adiaram consultas médicas ou exames de rotina, e 59,5% reduziram a atividade física.

O médico Cesar Luiz Boguszewski, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), ressalta que o diabetes pode ser uma doença silenciosa, que não apresenta sintomas. Segundo ele, os primeiros sinais da doença podem ser percebidos quando aparecem complicações associadas ao excesso do açúcar no sangue.

“Muitos dos pacientes adultos, com diabetes do tipo 2, são assintomáticos e a doença vai se desenvolvendo ao longo do tempo silenciosamente. O excesso do açúcar no sangue compromete vários órgãos, por afetar a parte vascular e nervosa. A doença é uma das principais causas das doenças vasculares e cardíacas, como infarto agudo do miocárdio e os derrames vasculares”, destaca.

Segundo Boguszewski, os cuidados e a prevenção contra o diabetes devem começar a partir do início da vida adulta, aos 20 anos. “Uma alimentação saudável, controle de peso, ida ao médico para monitorar pressão arterial e checar a glicemia é fundamental. Não é raro recebermos pacientes com diabetes instalado já na primeira avaliação”, disse.

O especialista explica que a doença pode começar em um estágio pré-diabetes e que o diagnóstico precoce pode evitar o risco de complicações.

Descontrole do diabetes pode ser fator de risco da Covid-19

O diabetes passa a ser um fator de risco para a Covid-19 quando há não é controlado.

Segundo Malerbi, o risco de agravamento pela Covid-19 está relacionado a pacientes diabéticos que apresentam taxas acima de 7,6%, o que indica o descontrole da doença. “Existem estudos que mostram que o indivíduo com diabetes abaixo de 7,6% de hemoglobina glicada tem um risco igual ao da população em geral”, afirma.

O aumento da taxa de glicose no sangue prejudica o funcionamento do sistema imunológico e favorece o desenvolvimento de quadros de inflamação no organismo dos pacientes com a Covid-19.

A inflamação é uma resposta imunológica natural do organismo à invasão pelos mais variados microrganismos, como bactérias, parasitas e vírus, incluindo o SARS-CoV-2. O mecanismo tem como objetivo eliminar a causa da lesão e reparar o tecido afetado. No entanto, quando a reação inflamatória acontece de forma exacerbada, o que os especialistas chamam de tempestade inflamatória, ela pode provocar efeitos danosos ao corpo.

“A hiperglicemia afeta negativamente as defesas imunológicas. O indivíduo sofre uma alteração no sistema imunológico e uma propensão para desenvolver a inflamação. Este é o cenário ideal para o vírus. Quadros hiperinflamatórios na Covid-19 evoluem mal, levando à necessidade de ventilação, internação em UTI e até mesmo ao óbito”, explica Malerbi.

Segundo o especialista, a pneumonia é um dos indícios do agravamento da doença. “Com o acometimento acima de 25% da área pulmonar, o indivíduo passa a ter dificuldade respiratória, cansaço forte e dessaturação de oxigênio, que indica a necessidade de hospitalização”, explica.

Os quadros mais graves, relacionados à tempestade inflamatória, podem incluir lesões no organismo que ultrapassam os limites do pulmão, órgão comumente mais impactado pela infecção.

“Nos quadros graves podem acontecer lesões cardíacas e renais. Existem ainda impactos para o sistema de coagulação do sangue, com quadros hemorrágicos e de trombose. Há também o envolvimento do sistema nervoso, levando a impactos neurológicos”, diz Malerbi.

No que diz respeito aos sintomas, o pesquisador destaca que, em geral, os primeiros sinais são os mesmos para diabéticos e indivíduos sem a doença. “Começa com um quadro respiratório que pode apresentar dor de garganta, febre, mal-estar, alteração no paladar e olfato e pode evoluir como uma gripe comum, com dor do corpo e de cabeça”, disse.

Os diferentes tipos de diabetes

O diabetes é classificada em diferentes tipos (1 e 2), de acordo com a forma de apresentação da doença.

O mais comum é o tipo 2, que compreende cerca de 90 a 95% dos casos. A doença é caracterizada pela má absorção da insulina produzida pelo pâncreas, o que leva a uma dificuldade para manter o açúcar no sangue em níveis normais.

O especialista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Domingos Malerbi, destaca que o diabetes tipo 2 costuma se desenvolver ao longo de anos, de forma silenciosa. O diagnóstico é realizado a partir de exames preventivos, pela medição do nível de glicose no sangue. A doença pode acometer pessoas de todas as idades, mas ocorre principalmente em faixas etárias acima dos 40 anos.

As causas são diversas e estão relacionadas principalmente ao sobrepeso, sedentarismo e hábitos alimentares inadequados. “Geralmente, o diabetes é acompanhado de obesidade e outras comorbidades como hipertensão arterial e alterações de colesterol. Os fatores de risco também incluem idade avançada, antecedentes familiares e quadros anteriores de hiperglicemia que foram revertidos”.

A doença pode ser prevenida com a adoção de um estilo de vida saudável, como perda de peso, dieta balanceada e prática de atividades físicas. O tratamento também conta com a recomendação de hábitos saudáveis e pode incluir medicamentos orais e injeção de insulina.

Diabetes tipo 1 acomete principalmente os jovens

O desenvolvimento da diabetes tipo 1 está relacionado à destruição permanente da maior parte das células do pâncreas que produzem a insulina pelo próprio sistema imunológico do paciente. Quando isso acontece, o órgão passa a produzir pouca ou nenhuma insulina. Em geral, o tipo 1 atinge crianças, adolescentes e jovens adultos.

“Os pais devem ficar atentos aos sinais como excesso de sede, aumento da frequência de micção e emagrecimento exacerbado e, na presença desses sintomas, agendar uma visita ao endocrinologista pediátrico para que seja feito o diagnóstico e início do tratamento”, disse Cesar.

Segundo os especialistas, as causas não são totalmente esclarecidas pela ciência, o que torna difícil estabelecer medidas de prevenção. Acredita-se que o diabetes tipo 1 seja provocado por uma reação autoimune do organismo, por fatores externos como infecções ou déficits nutricionais e até mesmo por predisposição genética.

Em geral, os sintomas do diabetes tipo 1 se desenvolvem rapidamente. “O início da doença é abrupto com sintomas como perda de peso, sede exagerada e produção aumentada de urina, que evoluem rapidamente para um quadro grave, chamado coma diabético”, afirma Malerbi.

Fonte: CNN

Comente sobre esta matéria ;)