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Diabetes não tira férias! Desafios da insulinização aumentam no período

Adolescentes estão entre os que mais têm dificuldade

Se seguir a dieta durante o ano inteiro já é difícil, durante as férias essa tarefa fica ainda mais complicada. Seja em casa ou viajando, as tentações são mais frequentes – assim como as pequenas escapadas. Porém, para os 13 milhões de brasileiros que têm diabetes, a atenção precisa ser redobrada, a fim de manter os índices glicêmicos adequados e controlar a doença: por isso, boa alimentação e prática de exercícios devem continuar, assim como o uso de medicamentos e a insulinização.

Insulinoterapia é considerada a alternativa mais difícil de ser aderida pelo paciente, pois demanda aprendizado quanto ao seu preparo, técnica para aplicação e monitorização do açúcar no sangue. Toda a rotina que envolve sua administração pode ser deixada de lado nos dias de relaxamento; mas, Fernando Valente, médico endocrinologista e Coordenador de Comunicação da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), orienta: “O diabetes não tira férias! É importante carregar a insulina em um estojo que a mantenha em temperatura adequada, além das agulhas, seringas ou canetas de insulina, aparelho para medir a glicose (glicosímetro), lancetas para furar o dedo e fitas para a medição”.

Adolescentes estão no grupo de pessoas que mais apresentam dificuldade, já que o jovem passa por sentimentos de rebeldia, necessidade de autoafirmação e períodos de desleixo. Para que o diabetes não saia do controle, o apoio da família e dos amigos, assim como boa relação entre médico e pacientes, são fundamentais para superar os desafios e fornecer o suporte para resistir às tentações – não só nas férias.

Ainda há muita resistência à insulinização, especialmente pelas ideias errôneas que a associam com a proximidade da morte, aparecimento de complicações do diabetes e dor. O especialista da SBD conta que “a aplicação é bem tolerada e quase indolor se for feita corretamente. No entanto, pode transformar-se em algo muito complicado se a mente cria uma expectativa de dor. Alguns erros de aplicação podem torná-la dolorosa, como injetar insulina ainda gelada, aplicar no músculo ao invés de na gordura subcutânea, usar agulhas grandes sem fazer prega na pele, reutilizar agulhas, e aplicar quando se está tenso. Contudo, atualmente, existem agulhas muito finas e curtas que minimizam o desconforto. A sensibilidade para dor de cada pessoa é diferente, mas a prática diária e o entendimento de que o tratamento é necessário certamente tornam as coisas mais simples”.

Indicações

O médico endocrinologista explica que insulinoterapia é indicada quando o pâncreas não produz insulina, ou a produz em quantidade insuficiente para manter os níveis de açúcar no sangue normais apenas com comprimidos. Sua prescrição é imediata quando o diagnóstico é de diabetes tipo 1, inclusive para evitar complicações agudas da doença. Já no tipo 2, essa terapêutica pode demorar para ser proposta ou aceita, o que faz com que o início do processo sofra atraso médio de sete anos.

“Essa inércia terapêutica deixa o indivíduo exposto a níveis elevados de açúcar no sangue por anos, aumentando muito o risco de desenvolver complicações crônicas da doença, como insuficiência renal, infarto, derrame, problemas na visão e nos nervos, que podem resultar em amputação. Estudos mostram que, no Brasil, cerca de 90% das pessoas com diabetes tipo 1 e quase 75% dos com tipo 2 estão com os níveis de glicose acima dos valores ideais”, ressalta Valente.

Para diabetes tipo 1, a insulinoterapia é para a vida inteira; fato que não se repete, necessariamente, no tipo 2 da doença. “A insulina é o tratamento mais potente para controlar o açúcar no sangue. No tipo 2, quando a glicose está muito elevada, o pâncreas não consegue secretar insulina mesmo que ainda tenha uma boa reserva desse hormônio, fenômeno conhecido como glicotoxicidade. Muitas vezes, as aplicações de insulina são necessárias para tirar a toxicidade provocada pelos altos níveis de açúcar no sangue para que o pâncreas volte a funcionar suficientemente a ponto de se obter um bom controle apenas com medicamentos orais”, conclui Fernando Valente.

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