Como estimular bebês e crianças de zero a um ano ou mais
O isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus tem afetado o desenvolvimento dos bebês e crianças pequenas. Em momentos extremos, o que fazer para o bebê se desenvolver? A pediatra e gerente médica da Maternidade Brasília, Sandi Sato, dá dicas de como driblar as adversidades e estimular a criança em momentos com poucas possibilidades de interação externa.
Estímulo para crianças de 0 a 6 meses:
1. Rede de balanço
A rede proporciona a estimulação vestibular. Balance o bebê na rede para estimular o reflexo de susto. A ação deve ser feita nos três primeiros meses e tem a intenção de promover um estímulo corporal adequado. Isso pode refletir em todo o desenvolvimento da criança no sentido de fazê-la sentir-se segura com o próprio corpo.
2. Brinquedos contrastantes e bem coloridos
Móbiles com duas cores não são adequadas. O bebê dessa faixa etária enxerga contraste e cores vivas e quanto mais cores mais estímulo ele terá. Os móbiles devem ficar de 20 cm a 30 cm de altura do bebê para que ele consiga enxergar.
Dica: Nesta idade o bebê não tem percepção de dimensões. Dê preferência para brinquedos geométricos, quadrangulares, circulares, que tenham borda, linhas verticais. cores vivas e que fiquem virados para a criança.
3. Luvas não!
Luvas servem para o recém-nascido sair em climas extremamente frios, o que é muito diferente do nosso clima tropical. Não é proibido o uso, o problema é o exagero. Quanto mais tempo de luva, a mãozinha poderá mostrar falha no desenvolvimento muscular e dificuldades no futuro. Esquentou? Tira a luva.
Dica: Nem sempre a mão fria significa que o bebê está com frio. Nos primeiros dias de vida, o corpinho está se adaptando ao mundo e a estabilização da temperatura corporal faz parte desse período. Em geral, acontece nos primeiros sete dias de vida.
Seis meses a um ano
1. Celular
Hoje em dia, é difícil evitar a utilização de aparelhos eletrônicos. A agitação do dia a dia requer cada vez mais agilidade e tempo. Porém, isso acaba prejudicando a evolução das crianças pequenas. É preciso tirar um tempo para dar atenção completa para o bebê.
Garrafinhas com grãos, fitas de cetim coloridas. Tente ao máximo não apresentar telas. Elas provocam um grande atraso no desenvolvimento, na linguagem, na interação social. A maioria das crianças fica antissocial, fala poucas palavras pois fica no mundinho dela.
Atenção: Telas não são para crianças! O cérebro delas ainda é imaturo e telas podem prejudicar o desenvolvimento oftalmológico, com o aumento do risco de miopia, principalmente se há predisposição genética, além de prejudicar o desenvolvimento cerebral. A questão da socialização é outro ponto importante. O contato da tela é unilateral e atrasa o desenvolvimento da socialização.
2. Peso, tamanho e textura dos brinquedos
É preciso se atentar ao peso dos brinquedos, pois os bebês ainda estão desenvolvendo a musculatura. Brinquedos que conseguem colocar na boca, também não podem ser muito pequenos. Esta é a fase oral,portanto, é normal, esperado e saudável que eles coloquem o brinquedo na boca. Por isso, precisam ter brinquedos para isso. Esta é uma das formas deles reconhecerem o ambiente.
Dica: Esponja com duas texturas, bolinhas com pontinhos massageadores, brinquedos sensoriais são bons exemplos de textura, que também estimula o desenvolvimento das crianças. Os brinquedos menos prováveis é o que elas mais gostam. Evite brinquedos que elas brinquem sozinhos.
3. Paciência
Temos que ter paciência para ver o bebê brincar. Deixe o bebê, mesmo irritado, utilizar sua autonomia. Ao invés de levar o brinquedo para a criança, mostre como ela vai até ele. Pode até dar um apoio, uma cosquinha para ele se mexer mais. Ajudar é diferente de entregar quando chora. Senão, esse bebê vai entender que é “tudo o que eu quero na hora que eu quero”.
Dica: Deixe os brinquedos próximos para estimular o interesse. Dependendo da distância, o bebê ainda nem conseguirá enxergar.
Crianças acima de um ano
1. Sem andajá
Até os 18 meses é o período natural para o bebê começar a andar sem estar atrasado. A fabricação de andadores é proibida no Brasil, entretanto é fácil de encontrar. Estes aparelhos causam acidentes, fazem padrão de perninhas de alicate nas crianças, fazem com que elas andem de ponta de pé, ou seja, não ajudam a criança a aprender a andar. No andador ela fica sentada e ninguém consegue andar sentado. Para andar é preciso ter controle do tronco.
Dica: Para auxiliar a marcha, pode ser utilizado como apoio um tipo de carrinho que o bebê empurra.
2. Pé no chão
Chinelo, sandália e tênis são péssimos para o desenvolvimento nesta idade. A base/sola do pé é um ponto de equilíbrio. É preciso fortalecer o pé e estimular a sensação de texturas. Pisar na grama, no chão liso ou mais grosso ajuda o bebê a fortalecer a musculatura.
Em tempos de pandemia, quando não se pode levar a criança para a área externa, as alternativas são pisar em diferentes texturas, utilizar tapetes, colocar grãos para pisar.
3. Mão para comer
Permita que a criança explore os alimentos com as mãos e utilize copos de transição. Estas são formas de estimular a independência. Neste período, a criança já tem um melhor movimento de “pinça” com as mãos. Ela deve conseguir segurar e você deve oferecer sempre alimentos para ela experimentar. A fase do “nojinho” é normal, mas ela passa com o tempo e insistência do estímulo.
Dica: Ofereça gelatina de agar agar, caroço de manga, algodão desfiado na água para a criança sentir a textura. Se for o caso, coloque a criança para comer em um ambiente que ela possa se sujar sem correr riscos de contaminação. Podem ser utilizados a cadeira de alimentação, um tapete ou mini piscina.
Para todas as fases: contar histórias, cantar e conversar
O hábito de contar histórias deve acontecer ainda no período intra-uterino. É importantíssimo, pois a criança aprende e começa a gostar de ouvir histórias antes mesmo de nascer. Cante, converse sobre as coisas do ambiente, mostre o que é cada coisa. A linguagem que vc usa também desenvolve a área psíquica do bebê.
Dica: Os bebês começam a se perceber como sujeito, como pessoa diferente, através da fala. Chame pelo nome, explique o que há no ambiente, mostre o cachorro, os pais, mesmo que pareça que eles não estão entendendo, mas a verdade é que estão, sim.